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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Errei na tática. Felipão idem. Com aqueles 11, derrota seria inevitável, mas o 7 a 1 foi fatalidade

O título deste post parece prepotente (me coloco junto ao Felipão no erro) e incoerente (derrota inevitável e 7 a 1 por acidente). Pelo teor do título, o justifico em duas partes que terminam no mesmo fim: a escalação errada na histórica goleada sofrida diante da Alemanha em Belo Horizonte. Na sexta-feira, logo após a vitória sobre a Colômbia, postei em minha página no Facebook que, mesmo sem Neymar, Felipão deveria forçar o jogo pelas laterais. Sugeri Bernard ou William e manutenção do esquema com dois pontos.

Minha observação foi feita com base nos jogos que assisti da Alemanha. Contra Gana e Argélia os germânicos sofreram com as investidas pelas alas dos africanos e o resultado foram empates que abriram contestação ao trabalho de Joachim Löw. Como me alertou ainda naquele dia o amigo João Gonçalves, diante da França (jogo que não assisti), a Löw corrigiu o problema. Abriu mão de Phillip Lahm no meio-campo e o recolocou na lateral-direita, posição em que foi o melhor do mundo por anos. Na esquerda, Howedes, travado, fechou o setor.

Talvez assim como eu, Felipão não tenha assistido França 0 x 1 Alemanha. Duvido. Felipão errou com conhecimento da causa. Lançou um time ao molde do que tinha Neymar. Bernard aberto numa ponta, Hulk noutra. O meio, com apenas dois volantes. Eis o erro fatal. Se Brasil e Alemanha jogassem outras 10 vezes, com os mesmos 11 de terça-feira, é muito provável que os germânicos vencessem em nove. Talvez 10. O meio-campo alemão é muito forte, com Özil aberto na esquerda, Thomas Müller na direita, Schweisteiger e Khedira como cães de guarda com saída de bola e Toni Kroos livre para armar.

Com as opções que Felipão tinha no elenco, o correto seria escalar um time parecido com o qual ele treinou na véspera do duelo. Jogar como time pequeno e fechar o meio com três volantes e dois meias. Luiz Gustavo, Fernandinho e Paulinho entrariam para proteger a zaga desfalcada de Thiago Silva. Oscar e William seriam a ligação com Hulk, que jogaria como um falso 9 no lugar de Fred (que durante a Copa foi um falso jogador). Mais do que tudo isso, não entendo como Scolari lançou a campo uma formação que treinou por 10 minutos. Na véspera, ele trabalhou com os três volantes. Se tentou enganar os alemães o tiro saiu pela culatra.


Toda esta análise diz respeito ao modo como o Brasil deveria ter entrado para vencer a Alemanha. Creio que apenas com o meio-campo recheado havia chance de superar o time alemão. A análise não implica em culpa aos 11 escalados a respeito da goleada. Do eterno 7 a 1. Sete foi o placar final, mas o que importa para mim foi o 5 a 0. Os primeiros 30 minutos. A pane geral. Quando sofreu o primeiro gol, o Brasil fazia duelo equilibrado, apesar de estar exposto pelo 4-2-1-3 de Felipão. Entre o primeiro e o segundo gol não houve blackout. Mas quando Klose superou Ronaldo em gols de Copas, o time entrou em parafuso.

O segundo gol alemão ecoou na cabeça dos jogadores como: "estamos eliminados". "Perdemos a Copa em casa". A crise dos seis minutos mais longos do futebol brasileiro foi como uma série de cruzado de direita e um jeb de esquerda sofrido por um pugilista. O Brasil sentiu o golpe e o adversário percebeu e o nocauteou. A avalanche alemã foi precisa. Não se pode deixar um Brasil, à beira da morte, ressuscitar. Naquele 2 a 0, faltou sangue frio. Não faltou raça. Nem deu tempo de faltar raça. Assim como qualquer ser humano, eles sentiram o baque. Assim como em qualquer jogo, o rival, experiente, aproveitou.

Os 7 a 1 me faz recordar de outro placar idêntico. Em 2001, com França, Luís Fabiano e Kaká em ótima fase, o São Paulo atropelou Cruzeiro, Internacional e Botafogo. O Tricolor chegou a São Januário com moral e teve a chance de abrir o placar com França. Ainda no primeiro tempo, Simon expulsou Rogério Ceni, Alencar assumiu a vaga, falhou em dois lances seguidos e o time implodiu. Na etapa final, sofreu gols aos 21, 23 e 25 minutos. O 7 a 1 do fim do jogo não condizia com a diferença entre ambos. O São Paulo, inclusive, fez 3 a 0 no Atlético-MG no jogo seguinte e terminou à frente do Vasco na classificação.

Este ano, mais uma vez o São Paulo, foi vítima de uma pane contra um carioca. Vencia o Fluminense, no Maracanã, por 2 a 1. No segundo tempo, o Flu empatou aos sete minutos e o jogo seguiu dentro da normalidade. Até que veio a virada aos 20, o 4 a 2 aos 27 e os 5 a 2 aos 30. A pane resultou num improvável 5 a 2. Ainda o São Paulo, desta vez, como algoz. Em 2004, pelo Brasileirão, São Paulo e Botafogo empatavam em 1 a 1 até os 28 minutos do segundo tempo. Foi quando Cicinho fez 2 a 1 aos 29, Diego Tardelli 3 a 1 aos 30 e Grafite 4 a 1 aos 31. Três gols em três minutos! Dois gols em roubadas na saída do meio-campo. Não acredita? Clique aqui. Fato mais do que raro no futebol, mas aconteceu. Como aconteceu a nada bendita pane que fez o placar ir do 1 a 0 aos 5 a 0 em BH.

Não quero ser advogado da diabólica tragédia do Mineirão. Os 7 a 1 são inadmissíveis. A Copa é muito maior que o Brasileirão. Brasil x Alemanha em uma semifinal de Copa está acima de um jogo do primeiro turno do Brasileirão. Meus exemplos servem apenas para exercitar a mente de quem nunca viu algo como o que ocorreu na terça. No futebol é possível ocorrer atropelamentos como o de terça. A diferença foi uma fatalidade, mas a derrota, com aqueles 11 versus os outros 11, era inevitável. Felipão errou. Eu idem. Eu podia errar. Felipão sem idem. E antes que digam que a terça-feira, 8 de julho, é uma data para ser esquecida, julgo como extremamente o contrário. Para que nada chegue perto dos 7 a 1, será preciso aprender com cada molécula dos erros que construíram a maior derrota da Seleção que mais venceu a Copa do Mundo.
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