domingo, 31 de agosto de 2014

O "rebaixável" Palmeiras precisa de um Heisenberg

Neste sábado (30), narrei Palmeiras 0 x 1 Internacional pela Rádio Clube. A concentração necessária para narrar contribui para perceber o desenho do jogo. Começo com o esquema de Gareca. O argentino escalou apenas um volante: Marcelo Oliveira. Allione e Mendieta preencheram o meio com a função de marcar e acionar o trio Cristaldo, Leandro e Mouche. Nada aconteceu. O Inter, com três volantes (Aranguiz, Williams e Wellington se revezaram na contenção e no avanço) e três atacantes (Jorge Henrique e Sasha voltavam e deixavam o Inter em um 3-6-1 sem a bola). Rafael Moura foi um pivô insuportável, que na função de "9", deixou Jorge Henrique na cara de Fábio no gol que definiu o clássico.

Ainda chamou a atenção ver um Palmeiras órfão de alguém que decida o jogo. Chega de figurantes baratos. Falta um protagonista, um cara que rasgue o roteiro acuado, de quem ronda o rebaixamento e pense como alguém que enverga uma camisa gigante como a do Palmeiras. Para quem assistiu (ou assiste) Breaking Bad, falta um Heisenberg. Alguém que, ao se deparar com a morte (rebaixamento ou câncer de pulmão), não se entregue à doença ou ao tratamento. Alguém que chute o balde e que assuma a postura de protagonista do próprio destino. Alguém que se dirija ao adversário com um "say my name ou diga meu nome" e faça o rival lembrar que o seu nome é Palmeiras. Que aquela camisa é a do Palestra Itália. Do campeão do século XX. Não do apequenado e assustado Palmeiras do século XXI.

Hoje, ao melhor estilo Walter H. White, o Verdão é medroso. Convencional. Mas como transformar WW em Heisenberg. Vince Galligan demorou cinco temporadas para construir o monstro mais querido da TV americana. Gareca nao tem nem meia temporada para virar o jogo. Allione, Felipe Meneses, Mendieta, Leandro, Cristaldo, Henrique, Mouche. As peças ofensivas que Ricardo Gareca tem em mãos não demonstram capacidade de decidir um jogo. Não assumem a responsabilidade de enfrentar este desafio enorme que é recolocar o Palmeiras nos trilhos. De tirar o Palmeiras do caminho rumo à terceira Série-B. Pelo ontem e pelo hoje, o Verdão é presa fácil. Aqueles que estavam em 2012 e os que chegaram depois, jogam com medo.

A bola queima nos pés nas poucas chances criadas. Vide os gols perdidos contra o São Paulo, no clássico em que Ganso, Pato e Kardec mostraram que o mediano elenco tricolor tem peças para matar um jogo. O Heisenberg palmeirense poderia ser Valdívia. Mas ao invés de ser o mago da metanfetamina verde, Valdívia é aquele ator convidado. Aparece mais para atrapalhar que para ajudar. Não faz jus ao status de ídolo. Não faz jus ao amor que o palmeirense um dia sentiu por ele. Ronaldinho Gaúcho poderia ser o Heisenberg. Se machuca muito menos que Valdívia, é gênio e em 2012/2013 foi a estrela do Atlético Mineiro.

O problema é que R10 é mais ganancioso que Walter White e Gustavo Fring juntos. Ronaldinho não quer mais jogar futebol. Uma pena para ele e para o Palmeiras. Era a chance de ter um cara que garantiria três pontos com gols de falta, com passes precisos. Alguém que acerta o simples quando os jogadores simples erram tudo. O Palmeiras precisa de alguém do tamanho de sua história centenária. Enquanto ninguém assumir a responsa, enquanto ninguém for Edmundo, Ademir ou César Maluco, o palmeirense vai sofrer à espera de um Heisenberg.
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