Errar é humano. É chave-mestra que faz da humanidade diferente do resto das outras criações. Não há muito instinto. Não há muitos dons para fugir de adversidades. E dos erros. Quando há mecanização, há um pouco menos de graça. É assim também no futebol. Nossos assustados técnicos, famintos por emprego acima do jogo, têm, a cada ano, transformado o futebol brasileiro em um produto com menos graça. Com menos Garrinchas, Malucos e 4-2-4. Há mais instinto auto-protetor do que exposição a erros. Tudo pelo emprego. Nada pela arte. Em 2015, se ainda não há arte, há mais graça. Méritos para Osorios, Batistas e até Dorivais. Claro que neste caminho há também a falta de material humano para encontrar solidez.
Se Osorio pudesse, teria Gil e Felipe no lugar de Lyanco e Edson Silva. Ou Lucão e Luiz Eduardo. O São Paulo, sem estabilidade lá atrás, é um dos que dá graça na frente. E promete mais agora, com Rogério, o Neymar do Nordeste. Rápido, envolvente, malicioso. Foi peça fundamental nos 2 a 0 sobre o Inter do costumeiramente burocrático Argel. Ganso e Bastos também estiveram bem. Assim como os lutadores Wilder e Centurión. Não há craques ali. Há um milagre de Osorio. O colombiano que ignora a necessidade de manter o emprego e emprega um jogo tão bom de se ver que até 'zero a zeros' (como contra o Joinville) ficam com cara de 3 a 3 (já chego lá). De volta a Rogério, se não virar um novo Osvaldo, promete. Promete cumprir.
Como o Santos promete ofensividade e cumpre. Mesmo sem Lucas Lima e Geuvânio, o Peixe cria. Atormenta. Argumenta. Ricardo Oliveira é quem tem o dom da palavra. Do gol. São 15 gols do Pastor, que segue liderando seu rebanho rumo à briga, antes improvável, pela Libertadores 2016. Contra o Sport, outro com DNA ofensivo, mais um jogo agradável de ver (no meu caso, ouvir). Duelo com erros (da arbitragem e das defesas) e menos de mesmice.
Termo que passou longe da Allianz Parque. No encontro da volúpia ofensiva com o pragmatismo defensivo, quem ganhou foi o futebol. O Dérbi Paulistano quase extinguiu minha garganta. Narrar este monumento pela Rádio Clube foi um momento para ser emoldurado. Guardado em um acervo especial na memória. Culpa dos erros. De Arana, Lucas, Amaral. De posicionamento. De trocas erradas. De erros trocados pelos rivais. O primeiro tempo alucinante teve um Corinthians como pouco se viu em 2015.
O clássico falou mais alto que a doutrina, o time se desprendeu, cedeu espaços e levou três gols em 45 minutos. O setor baixo da tela de quem viu o jogo pela TV se tornou uma avenida de mão dupla. Arana e Lucas talvez levarão broncas pelos erros defensivos, mas, de mim, ganharão elogios pelo que fizeram no ataque. E reparem que o jogo só voltou a ser burocrático quando o Corinthians aceitou jogar como sempre joga. Psicopático. Preocupado em não errar. Levou pressão, pouco atacou, mas quando o fez, acertou. Empatou. E, se evitou um 6 a 6 histórico, ao menos garantiu que o jogo não tivesse um vencedor. Mas, dois. Mas, milhões.
Dos jogos que só vi lances, também enumero erros de Figueirense e Fluminense para tratar das belas vitórias de Cruzeiro e Flamengo. A Raposa que teve um estreia controversa. Goleou no primeiro jogo de Mano, retranqueiro na boca do povo. Reparem, porém, que ele chegou com um projeto para 2016. Ou seja, está com emprego garantido. Sem medo de demissão. Sem medo de errar. Já o Mengão de Osvaldo é como o Palmeiras de Osvaldo. Ou o Santos. Ou o Botafogo. Ataca muito. E está em alta. Já é sexto e está a três do G4.
A BRIGA NA PARTE ALTA
Junto com o Santos, o Flamengo surge como um dos improváveis favoritos pela Libertadores. A diferença do São Paulo (4º - 38 pontos) e o Internacional (11º - 31 pontos) é de sete pontos. Seria de um se o Tricolor não vencesse no Morumbi, sábado. Entre eles, há Atlético-PR (37), Fla (35), Palmeiras (35), Santos (34), Fluminense (33) e Sport (33). Com tantos candidatos, será rara a rodada sem um confronto direto. Na próxima, por exemplo, tem Inter x Palmeiras e Santos x São Paulo.
Na outra, Sport x Fluminense. E por que não Grêmio x São Paulo. O Tricolor Gaúcho parece o único ainda no meio do caminho. Enquanto a virada sobre o Goiás o deixou perto do Galo (44 x 45) e não muito distante do Corinthians (44 x 50), dois tropeços e poderá alcançado pelo São Paulo. Ou outros rivais. O Galo, que ignorou o Vasco, segue vivo. O empate do Corinthians reduziu a diferença para cinco pontos.
E por mais que eu já tenha entregado a taça à psicopatia corintiana, a próxima rodada pode embolar a parte alta. Se o Grêmio vencer, ficará a três pontos do Timão. E o Galo (se vencer o Avaí, em casa), ficará a dois. Ou seja, se for mais uma rodada exposta a erros, quem duvida de uma reviravolta na obviedade. E assim, em meio à um campeonato humano, vivemos um Brasileirão melhor. Construído baseado em erros. Obrigado, erros!


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