Faxe, Old Milwaukee, Miller, Sagres. Todas ainda fazem parte de uma coleção empoeirada, no depósito de bobagens da minha casa. Claro que na época, entre 10 e 14 anos, não bebia. Aliás, como já postei por aqui, comecei a beber já velho, no alto dos meus 21 anos. Quem bebia as importadas era meu pai. Eu apenas queria a lata para aumentar a coleção. Ainda tive a ajuda do meu tio Roberto, que consumia algumas estrangeiras e contribuiu com o crescimento da coleção.
Na época, até cervejas como a Stella Artois e Budweiser eram artigos raros. Lembro que comprei uma Stella com prazo de validade vencido, em uma loja que vendia brinquedos, roupas e itens paraguaios. Hoje, distribuídas pela Ambev, as marcas ajudaram a disseminar um pouco mais do sabor estrangeiro. Ainda assim, estão longe de ajudar na diversificação do paladar dos cervejeiros locais.
O BRASILEIRO REALMENTE CONSOME UMA VERDADEIRA PILSENER?
Voltando ao tema Pilsen. Na sequencia deste post, vou escrever um pouco sobre a história do estilo mais consumido no mundo. Isso mesmo. Não é apenas no Brasil que as loiras são preferência nacional. O problema é que, por aqui, este estilo originário da República Tcheca ganhou uma formatação industrial, perdeu os aromas notáveis de lúpulo e o sabor acentuado do malte. Em 2012, uma pesquisa publicada por cientistas do Centro de Energia Nuclear da USP (Universidade de São Paulo) de Piracicaba e da Unicamp (Universidade de Campinas) apresentava uma presença elevada de milho em sua composição. LEIA A REPORTAGEM CLICANDO AQUI.
Enfim, antes de posts sobre os tipos de cerveja (Ale e Larger, com variações para as especiais e excêntricas), vamos saber a uma dose de conhecimento sobre a Pilsen!
HISTÓRIA - Os registros cervejeiros indicam que até 1835 havia apenas um tipo de cerveja, as Ales, quase sempre escuras. Apenas neste ano é que foi descoberto o fermento do tipo lager, que se desenvolve no fundo dos tranques. Daí surgiu a diferença de alta e baixa fermentação, fato que será melhor explicado em futuras postagens.

GLOBALIZAÇÃO - O sucesso atingiu um nível mundial, ainda mais com a globalização. Porém, aqui no Brasil, a maioria das cervejas que trazem nos rótulos do termo Pilsen, a bem da verdade, apenas se assemelha à bebida criada há quase dois séculos por Groll. Por exemplo. A quantidade dos ingredientes (malte e lúpulo, principalmente) é bem menor. São introduzidos itens adjuntos, contribuindo para a perda da essência de uma Pilsen. Em minha entrevista com o mestre cervejeiro Ricardo Marquetti Júnior, da mogimiriana Sauber Beer, ele explicou que atualmente, a indústria brasileira utiliza ingredientes como milho e arroz, reduzindo a presença de malte de cevada. São os chamados 'cereais não maltados'.
A adição destes adjuntos geram uma estabilização de alguns fatores, mas o sabor torna-se mais fraco, ácido e implica na aplicação de estabilizantes e conservantes para manter a cerveja. Apesar da redução da originalidade, este processo implica em valores mais acessíveis aos brasileiros, além de uma refrescância que não seria encontrada na Pilsener tradicional. A nossa Pilsen, uma espécie de 'Brasiler', acrescentou uma pitada de "jeitinho brasileiro" no pragmatismo europeu.
