terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ney x Ceni: Os malditos donos da verdade absoluta

O momento conturbado do São Paulo ganhou um novo capítulo nesta terça-feira. O jornal O Globo publicou entrevista assinada por Carlos Eduardo Mansur com o ex-técnico tricolor, Ney Franco. Um mês após sair do clube o treinador abriu o bico. Claro, motivado pelas críticas de Rogério Ceni, que, em meio à penúria são paulina dos últimos meses, repassou à falta de comando de Ney boa parte do insucesso tricolor. Ceni ainda disse que o legado do técnico para o clube foi zero. Ney rebateu, e colocou em público alguns atos de desatino do goleiro. A principal foi o cerceamento a colegas, no caso citado, Ganso e Lúcio.

Ou seja, ambos jogaram fezes em um ventilador que já estava a 300km/h. Assim também foi com Adalberto Baptista, que bateu de frente com o capitão e acabou, depois, deixando o cargo de diretor de futebol. Com tanto odor no ar, as declarações de lado a lado criam verdades por aí. Aqueles que já odeiam Ceni, e são muitos, principalmente os rivais que cansaram de vê-lo no topo entre 2005 e 2008, vibram e vociferam como se Ceni fosse um câncer no São Paulo. Ney Franco mentiu? Provavelmente, não. Mas porque acreditar piamente em Ney que dedicou 365 dias ao clube, que em Ceni, o homem de quase 1.100 jogos. Ceni é santo?!É claro que não.

Quanto à Ceni, sua postura lhe rendeu antipatia de muitos. Mas, quem se lembra de um ex-jogador do São Paulo falar mal dele? Ele também desrespeitou hierarquias, com o caso mais citado sendo o duelo entre São Paulo x LDU de Loja, quando "mandou" Ney colocar Cícero em campo (alteração que, na minha visão, era a mais inteligente naquele momento). Mas certo ou não, deveria ter ficado quieto. Deveria? Porque um cara que se dedica há 20 anos ao seu clube vai ficar calado vendo seu time correr riscos de perder para o inexpressivo LDU de Loja no Morumbi? Quando Marcos deixava o Parque Antártica p... da vida com os colegas, os criticava pela falta de marcação e via o “seu” Palmeiras se afundar, ele era o Santo...

Já a maior repercussão da entrevista de Ney foi sobre uma possível fritura de Ceni nos bastidores a jogadores que não tiveram seu aval. Ganso foi o nome exposto. Aliás, seria o nome mais fácil. Se Ceni foi oportunista ao colocar a culpa do mau desempenho em Ney (mesmo que, na minha opinião, o treinador tenha muita culpa mesmo), o treinador retribuiu no mesmo (e baixo) nível. Não há quem não tente entender porque aquele camisa 10 do Santos de três anos atrás sumiu. O treinador delegou a culpa à fritura de bastidores de Ceni. Algo subjetivo, difícil de contestar, fácil de tornar-se verdade.

Veja o vídeo de Ganso e Ceni após duelo com o Atlético-MG

Outro episódio para acalorar o caso é a saída de campo em 18 de abril, quando o São Paulo venceu o Atlético-MG por 2 a 0 na melhor atuação de Ganso com a camisa do São Paulo. O camisa 8 foi reverenciado por... Ceni. O goleiro disse que a vitória foi por mérito do meia, que Ganso tinha jogado pra c... e que poderiam dar a batuta para ele, pois o maestro estava em campo. Para mim este cenário é categórico. Ou ali demonstra que Ceni é um dos maiores traíras do mundo ou, que Ney bateu em uma ferida apenas para se proteger. Oras, se há alguém que quer saber da verdade, basta cutucar Ganso. O cara que um dia, ainda garoto, se negou a ser substituído e bateu de frente com seu técnico (tal qual já fez tantas vezes Ceni), talvez tenha personalidade para dizer se é minado pelo colega ou não. E se comparam Ganso à Ricardinho (por sair de um rival e não produzir o mesmo no São Paulo), parece que segue o mesmo caminho nos corredores. E, acusado de fritar Ricardinho, Ceni sempre foi defendido pelo próprio Ricardinho. "Só tinha o Ceni de amigo no SPFC", já relatou o ex-meia em entrevistas.

Tudo isso posto, julgo que analisar as últimas entrevistas, de Ceni e Ney, criam a necessidade de frieza. Não se pode ler algo e entender como uma verdade absoluta. Também é imprescindível citar o novo rumo da “soberana” diretoria. O clube das três cores foi, um dia diferenciado, muito por saber lidar com esses casos. Ou alguém acha que outras estripulias do dono do vestiário do Morumbi não ocorreram antes? Adriano Imperador é o caso mais explícito. Alguém acha que apenas no São Paulo o menino da Vila Cruzeiro foi um anjo? Em todos os ambientes de trabalho há problemas, mas a roupa deve ser lavada lá dentro. A imagem de integridade do grupo de profissionais deve ser mantida, pois, alguém acha que colocar Ganso e Ceni em rota de colisão será benéfico ao São Paulo? Ney o fez porque Ceni falou o que não devia. E esse ciclo vicioso só tende a piorar. Há anos interpreto o São Paulo como um gigante em queda, um império em ruínas. Claro que, assim, como qualquer outro gigante no futebol, pode e irá se reerguer. Porém, enquanto os cardeais forem os mesmos, não há santo, de casa ou não, que possa operar algum milagre.
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