terça-feira, 20 de agosto de 2013
Sheik e a bitoquinha da discórdia
A 15ª rodada do Campeonato Brasileiro teve grandes jogos, como a vitória por 5 a 1 do Cruzeiro sobre o Vitória. Grandes atuações, como as de Rafael Marques e Bolívar na vitória do cada vez mais líder Botafogo. Também houve grandes frustrações, como a do são paulino a ver Jadson chutar com perna trêmula um pênalti que encerraria 11 jogos de jejum do São Paulo. Porém nada foi mais falado do que o pequeno beijo de Emerson Sheik em um amigo.
A imagem registrada em uma rede social foi publicada já com o camisa 11 corintiano falando sobre preconceito. E claro que a imagem do alvinegro correu o mundo da bola. Houve até protestos em frente ao CT do Corinthians. E a simples bitoca de Emerson em seu amigo ganhou proporções maiores que o flagra de Ronaldo com três travestis em um motel carioca. A primeira e clara menção é à homofobia. Primeiro que este tipo de atitude é crime e ninguém resolveu prender os marmanjos que foram ao CT alvinegro.
Segundo que se “Emerson é ou não”, problema é dele. Jogadores de futebol tem que corresponder em campo, desempenhar seu trabalho e dessa maneira Sheik se transformou em ídolo no Parque São Jorge. O segundo problema aos remoídos corintianos foi ver cair por terra uma das maiores sátiras sobre um rival. Se os alvinegros cansaram de chamar os são paulinos de bambis parece não haver mais argumentação. Nem mesmo a maior vítima do machista meio do futebol, Richarlyson, saiu ofertando selinhos por aí. A terceira questão remetida pela bitoca do Sheik é quanto à homossexualidade no futebol.
Caros amigos, a cada dia que se passa aumenta o número de gays assumidos e é óbvio que ainda há outros tantos escondidos em armários por aí. Ou seja, é impossível imaginar que em um meio com milhares de atletas, não haja homossexuais. Se Sheik é ou não, repito, problema é dele, a questão é que há sim muitos gays enrustidos no futebol, assim como na medicina, na construção civil, na mendigagem... Outro ponto interessante é o quanto os clubes repelem a homossexualidade. Até hoje nenhum jogadores profissional de alto nível assumiu sua condição no Brasil, porém, ouso dizer que não teria suporte de sua agremiação se o fizesse. A condição do homossexual recebeu abertura na sociedade como um todo, mas no futebol, ainda há tabus e barreiras. Será que não passou da hora de um time assumir?
RACISMO NO SÉCULO XIX - Pensar em um frase como essa remete ao tempo em que o futebol se jogava com paletó e gravata. Na aristrocata sociedade do início do século passado, não se aceitavam negros nos clubes. O bangu Atlético Clube foi o primeiro time a admitir um afordecente em seu plantel, mas, claro, era um time de proletários. Em 1915 a entrada do mulato Carlos Alberto no Fluminense causou repercussão que dura até hoje. O próprio Carlos não gostava de sua cor e resolveu atuar com pó de arroz. O disfarce, claro, durou pouco com o suor e os torcedores adversários não perdoaram o tricolor e o apelido pó de arroz persiste até hoje, com conotação homofóbica, é claro.
Cerca de cinco anos depois outro negro passou a ser considerado o maior jogador do país. Artur Friedenreich, ou El Tigre, teve grande destaque pelo falecido São Paulo da Floresta. O maior jogador entre 30 e 40 foi, para muitos, Leonidas da Silva e o ex-atleta de São Paulo e Flamengo carregava o apelido de Diamante Negro. E 53 anos após o primeiro negro ser admitido em um time de futebol, Pelé, o maior de todos, deu o primeiro título mundial ao Brasil.
Após toda essa passagem histórica fica a pergunta. Como o Brasil reagiria com um homossexual como craque de uma Copa do Mundo? Não sei qual seria a resposta, mas gay ou não, Sheik estimulou a pergunta e pode, por que não, iniciar uma nova era no futebol.