terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A Itapirense mais itapirense dos últimos anos

A abertura da Esportiva Itapirense para jogadores itapirenses tem uma proporção que talvez até os envolvidos no processo não compreendam. A Vermelhinha viveu um período conturbado em sua gestão compartilhada e a recém formada parceria com os paulistanos da Itaquerão Soccer já é coisa do passado. A crise em campo, com quatro jogos sem vencer, deu lugar a uma série de três jogos sem perder. O futebol é muito ilógico e ainda é cedo para dizer que as ameaças do rebaixamento também disseram adeus.

Porém, não dizem que é na crise que surgem as oportunidades? Por caminhos tortos a Esportiva abriu espaço para itapirenses. O elenco conta com quatro atletas da cidade, um dos índices mais altos desde que o clube voltou à Segunda Divisão, em 2006. Kellyton, Rafael Caio, Tiziu e Nê são os representantes de Itapira no clube de... Itapira. Para entender este efeito é importante voltar algumas semanas no tempo. O grupo começou a A3 com apenas 12 inscritos e as falhas extra-campo abriram uma vasta lacuna no elenco.

Das 12 peças iniciais, uma já estava ligada a Itapira. Kellyton, de 20 anos, está no elenco profissional desde o ano passado e foi o principal destaque nas primeiras rodadas. Marcou o primeiro gol da equipe na temporada, contra o Fernandópolis e apesar da queda de produção ainda é uma importante válvula de escape pela direita.

Na semana posterior ao debute outro itapirense foi adicionado aos inscritos. O meia Rafael Caio se tornou mais uma opção para o então técnico Mirandinha. Quem observa apenas os registros de nascimento de Rafael pode contestar sua inserção na lista. Porém, apesar de ter nascido no Hospital Vera Cruz, em Campinas, o meia logo retornou à cidade dos pais, onde foi criado.

AMADOR - Após 12 dias da estreia e nenhuma vitória, mais um passo na ‘municipalização’ da equipe foi dado. Na sexta-feira, 12, dirigentes e comissão técnica acompanharam um jogo-treino entre uma seleção de atletas do amador de Itapira e jogadores não registrados pela Esportiva. Três nomes foram aprovados. O lateral-esquerdo Allan, o Tiziu, o meia Nê e o volante Chico. Do trio apenas Tiziu já foi inscrito e inclusive entrou nos minutos finais na vitória sobre a Inter de Limeira, no sábado (20). Nê já teve todas as taxas pagas, mas, sua inscrição só deve ficar pronta a tempo de atuar no domingo, contra a Matonense. Quem pode aumentar a lista para cinco itapirenses é o volante Chico, que ainda está sendo melhor avaliado pela comissão técnica.

CALMA - Em tempo, os jogadores
 citados acima não são craques. Não são e nem podem ser cobrados como a salvação da lavoura. Há uma discussão, inclusive, sobre a desvantagem dos mais técnicos da várzea sobre os brucutus com físicos bem treinados. Algo que realmente não se pode descartar, ainda mais em uma era em que a parte física é mais valorizada que a capacidade técnica. O que me chama a atenção nesta inserção recorde de itapirenses não são os resultados imediatos, mas os frutos que podem ser colhidos no futuro. A presença destes itapirenses no elenco potencializa a presença de familiares, amigos e curiosos em ver meninos da terra no clube da terra.

Crianças da cidade poderão a ter maior oportunidade de vincular sua idolatria no futebol a figuras próximas. O ponta esquerda pode ser seu vizinho, irmão, primo e não mais o Cristiano Ronaldo, dos comerciais de shampoo. A cobrança pode ser maior, assim como a responsabilidade, mas há uma tendência para maior apoio. Ainda mais em uma cidade que há anos mantém o discurso de que o clube deveria dar espaço para os jovens do Amador. 
Na volta da Esportiva já houve outros casos, como Robinho e Roni. Figuras que sofreram com a falta de espaço e de paciência. O espaço está dado mais uma vez. E a torcida deve corresponder.

A Esportiva tem em mãos a chance de reescrever a sua história. Nas décadas de 40 e 60, quando esteve em atividade pelas últimas vezes antes do longo licenciamento, a Vermelhinha desfilava talentos locais. Um deles, de sobrenome Bellini, saiu de Itapira para conquistar o Mundo. Eternizou o gesto de levantar a Jules Rimet. Anos depois o Itapira Atlético Clube reassumiu o papel de representar a cidade e figuras como Luizinho Domingues, Pepe, Flávio e Dado Boretti representaram a cidade natal no clube da cidade.

Não é uma história exclusiva de Itapira. A Ferroviária de Bazani, o Mogi Mirim dos irmãos Stort, o União Barbarense de Ademir Gonçalves. Símbolos de uma época em que os clubes do interior eram representados por filhos da cidade. São inúmeros os casos de agremiações que eram formadas, e não apenas administradas, por atletas com uma rica ligação com determinado município.

O profissionalismo, crescente principalmente da década de 1990 em diante, passou a cercear esta relação. Vejam o Noroeste, por exemplo, adversário da Esportiva Itapirense nesta quarta-feira (24) pela Série A3. Foi no Alfredo de Castilho que nasceu Toninho Guerreiro, um dos maiores atacantes de Santos e São Paulo. Bauruense, matador e promissor. Ajudou o Norusca a crescer e depois cresceu longe de Bauru. Natural. Porém, enquanto por lá esteve, foi um filho que ajudou e muito o clube da terra.

A história foi desvirtuada e hoje nem mesmo as administrações são, necessariamente, de pessoas com vínculo com as respectivas cidades. Há até quem tire determinado clube de uma sede para procurar ganhar mais dinheiro em outro lugar, como já aconteceu com Barueri e Guaratinguetá. Observem as médias de público e a relação de clubes interioranos com suas cidades. Há uma frieza apavorante. Mas que ainda pode ser revertida. Basta apostar no santo de casa...

PS.: Não é itapirense, mas já é de casa. A relação de atletas locais pode ser aumentada por Magno. Baiano de Feira de Santana, o volante é o capitão e mais experiente jogador do elenco. É também quem conhece a mais tempo a casa, já que atuou em Itapira em 2009 e retornou à cidade em outras oportunidades. Ano passado, inclusive, foi campeão da Copa Itapira de Futebol Amador pelo Valencia. Dos profissionais adotados pela cidade, está, talvez, atrás apenas de Juary e Joel, outras figuras que contam com enorme carinho em Itapira.  

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