terça-feira, 8 de março de 2016

As lições de uma jornada na Allianz Parque e da paixão juventina

Os últimos três dias foram atípicos. Sábado de preparação, domingo de execução e segunda-feira de recuperação. A ida ao Allianz Parque para transmitir Palmeiras x Capivariano neste dia 6 de março deveria ser um hábito e justamente por ser um ponto fora da curva é que produzo este post. A primeira parte desta história é a essência de toda esta loucura que foi o último domingo. Transmitir o jogo de futebol in loco. Na cabine. No gramado. Para quem não está habituado às jornadas esportivas, as emissoras (seja de TV ou de rádio) estão adotando cada vez mais a prática do offtube (popular tubo).

É o tal do custo benefício. Se é possível transmitir um jogo de futebol do estúdio e não do estádio, com redução de custos, por quê viajar? Por quê sofrer com problemas técnicos, chuva, sol? Difícil discordar desta linha empresarial em meio a um momento de instabilidade econômica (a crise é institucional, há dinheiro, mas falta confiança!). Corte é a palavra da moda. Mas, acima de qualquer coisa, sou jornalista. Por natureza, somos idealistas, apaixonados por uma profissão que tem lá suas diferenças em relação a tantas outras.

E estar na cena dos fatos é uma delas. Quando esta paixão pelo impresso, TV ou rádio (ou todos eles) é acompanhada pelo tema, a vontade de estar lá para reproduzir cada detalhe para o leitor, telespectador ou ouvinte é ainda maior. Minha torcida é para que, aos poucos, as emissoras voltem ao tradicional. Hoje gigantes como a Rede Globo não sentem nem vergonha de deixar claro que seu narrador titular está no estúdio e apenas o repórter no estádio. O clima do jogo nunca será o mesmo. A emoção transmitida por quem está junto daquela pulsação do torcedor é diferenciada. A informação apurada pelo repórter in loco sempre estará à frente do profissional do tubo.

LIÇÕES – A transmissão de Palmeiras 4 x 1 Capivariano não foi perfeita como o planejado. Estou há bem menos tempo do que inúmeros colegas, mas já ciente dos iminentes imprevistos. Se é que não dá para prever que a Vivo, concessionária de telefonia em São Paulo, fará um enorme esforço para te deixar na mão. Solicitamos a linha com 10 dias de antecedência, pagamos e ainda assim não havia linha nenhuma. Emitir e receber sons de uma cidade para outra não é tão simples.

Ainda mais quando todo o roteiro planejado para se chegar com antecedência é derrubado por um GPS e por desvios de tráfego que não estavam nos planos. Com muita paciência colocamos a rádio no ar e transmitimos o jogo. Muito por conta do esforço de JP, Paulinho Antonelli e Jota Sobrinho, que ficaram às escuras em Itapira à espera de nossa comunicação. Detalhes que servem de aprendizado. Aliás, o que mais tivemos foram lições. O esforço do único funcionário da Vivo presente no estádio foi fundamental. Rodrigo é o nome do responsável por reparar os danos técnicos causados por uma instalação não realizada.

Elaine Sobral é outro nome que merece aplausos. O termo ‘assessor de imprensa’ é empregado com excelência para esta profissional. Nos assessorou como pode e enquanto não estávamos trabalhando de fato, ela não sossegou. Elaine, aliás, também deixou sua equipe à nossa disposição. Mais um motivo para elogiar o Palmeiras. Falar sobre a beleza e modernidade da Allianz Parque já é comum. Portanto, nem irei me estender a respeito daquele monumento. Mesmo assim irei enumerar três defeitos. A falta de sinalização nos arredores.

Apenas a poucos metros do estádio encontramos placas indicando o local. A arena também não comporta estacionamento para a imprensa, algo comum até em estádios sucateados do nosso país. O terceiro item também é corporativista. O acesso de veículos da imprensa é feito ao lado de bilheterias e tem o trânsito bloqueado nos seus arredores, dificultando um acesso mais tardio. De qualquer modo, vale ressaltar que, ao ser acionada a CET, companhia de gerencia o tráfego em São Paulo, foi extremamente gentil com a nossa equipe.

JAVARI – O deslocamento para São Paulo não teve apenas o trabalho na Allianz Parque. Experimentamos o contraste, pela manhã, ao passar pela Rua Javari. O estádio Conde Rodolfo Crespi tem um dos climas mais espetaculares do futebol brasileiro. O bairro respira o Juventus. A Mooca é grená. O juventino é da Mooca. Há uma mistura. Poucas cidades do país defendem tanto uma bandeira quanto o morador de um bairro, a Mooca, briga pelo Moleque Travesso. Já havia trabalhado duas vezes na Javari e parece que não levo sorte ao Juventus.

Em 2011, a Esportiva Itapirense arrancou um empate sem gols. No ano seguinte, vitória da Vermelhinha por 1 a 0. Mais uma vez sem marcar, o time Grená empatou em 0 a 0 com o Mirassol e manteve o flerte com a zona de rebaixamento. Vi pouco do jogo, confesso. Uma das metas era comprar uma camisa grená e experimentar o famoso cannoli. Fui para a fila pouco antes do fim do primeiro tempo. A ideia era voltar para acompanhar toda a etapa complementar. Sonho meu. Fiquei quase uma hora na fila. E não reclamei. E olha que sou um ‘anti-fila’ juramentado. Ficar naquela fila, com tanta gente, mostrou que o futebol é um evento para o juventino. Para o bairro. Este fascínio pela Javari faz o torcedor e ‘turistas’, como nós, consumir produtos que rendem dividendos para o clube. Muitas pessoas saem da Javari com produtos oficiais. Bonés, camisas oficiais, modelos retrô ou casuais.

Há opções para preencher a carência do fanático juventino. Há uma troca de respeito entre as entidades. O clube e a torcida. Torcedor que não apenas passeia na Javari. A gritante maioria dos 2.592 pagantes de domingo cantavam o jogo todo. Principalmente atrás dos gols. Um clima que renova as esperanças de qualquer fã do esporte em ver, aqui, na minha casa, na minha região, um estádio que pulse por uma bandeira regional. Um movimento de atração que caminha para o lado oposto... Que um dia o mogimiriano, o itapirense e o Guaçuano sinta-se novamente movido ao seu estádio para bradar o orgulho por uma tradição. Por um escudo. Por um ideal.

COINCIDÊNCIAS – Você pode até ir sozinho a um estádio, mas não sairá sem conversar com alguém. Há ali uma comunhão de interesses. Assim, é possível encontrar com pessoas conhecidas mesmo a quilômetros de casa. Para nossa surpresa, logo no portão principal da Javari, já nos deparamos com alguém deste perfil. Pior. Era o técnico da Esportiva Itapirense, Claudemir Peixoto. Residente em São Paulo, curtiu a folga com a família em um estádio. Há muito vício neste futebol. Outra coincidência está atrelada ao Capivariano. Impressionante como toda vez que trabalho pela Rádio Clube em um jogo do Leão, tenho problemas de ordem técnica.

Em 2012, pela Série A3, não havia linha instalada no ainda nada moderno Carlos Colnaghi. Nem o sinal da Tim estava disponível, quebrando qualquer chance que eu e o narrador Humberto Panizola tínhamos para dar transmitir o jogo. Dois anos depois voltamos a Capivari para mais um duelo da Esportiva com o Leão. Era a última rodada, valia título para os donos da casa e rebaixamento para os visitantes. Porém, um trator derrubou os fios do transmissor da Rádio e entramos no ar apenas na etapa final. Já neste ano. Bem, neste ano vocês já leram a história. Mas não será um problema ou outro que nos fará desistir da cabine. Do campo. Tampouco está má sorte relacionada ao Capivariano...

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