Os palmeirenses não sentem muita saudade da década de 80. Foi um período sem taças e com derrotas doloridas, como na final do Paulistão de 1986, diante da Internacional de Limeira. Uma década inteira entre a taça de 1976 e a de 1993. Entre seleções acadêmicas ou da Parmalat. Um período minguado que minou a projeção de novos ídolos, entre eles, o zagueiro Toninho e o atacante Mirandinha.
Os palmeirenses de Itapira e Mogi Mirim, cidades com alto índice de palestrinos, sofreram com o jejum de taças daqueles times. Toninho e Mirandinha conquistaram espaço entre titulares, tiveram certo destaque e após a passagem pelo Palestra Itália não atuaram mais juntos. Mirandinha, aliás, foi um dos jogadores que abriram as portas do futebol inglês para os brasileiros com sua ida ao Newcastle.
O destino gerou certa distância entre os ex-colegas que Palmeiras, mas este mesmo destino os trouxeram para uma distância de 15 quilômetros e uma realidade mais próximas do que eles mesmo podem imaginar. Toninho Cecílio é o treinador do Mogi Mirim desde outubro. Semanas depois, Mirandinha assumiu a Esportiva Itapirense. Com o Atlético Guaçuano mais uma vez inativo na temporada, os ex-parceiros de Palestra são os treinadores das únicas equipes profissionais da Baixa Mogiana.
Mais do que a proximidade entre as vizinhas cidades, o que mais acerca a dupla é a hombridade. Toninho e Mirandinha trabalham em clubes em crise política. Para iniciar a trajetória na temporada precisaram desafiar atitudes amadoras de seus superiores. Não há como julgar o trabalho em campo de ambos sem olhar para os problemas que sofreram na montagem de seus grupos.
Toninho está na Série A1, a divisão estadual mais competitiva do Brasil. Mesmo assim, viu a diretoria tardar para contratar reforços, atrasar a pré-temporada justamente pelo elenco reduzido e reduzir o tempo para uma preparação física, técnica e tática adequada. A lista de reforços foi feita e desfeita várias vezes. Jogadores até então acertados por pessoas ligadas à oposição eram descartados pela situação. Mesmo assim chegaram reforços com potencial, como Jean Deretti e Gabriel Dias e nomes já consolidados, como Wendel e Lulinha.
Muito por mérito de Toninho, em conjunto com os auxiliares Marcus Vinícius e Juninho. Eles suportaram a durante as semanas mais importantes na montagem de elenco a instabilidade a respeito do comando do clube, que chegou a ter dois presidentes em uma semana de dezembro. Ou seja, Toninho, contratado para ser técnico, teve que voltar a ser dirigente e coordenar o processo de montagem que caberia a um diretor de futebol, função que ficou órfã até o presidente destacar um dos filhos (sem experiência para tal) para exerce-la. Mesmo após a montagem, ainda houve a agonia das inscrições de atletas e da liberação do estádio Vail Chaves apenas 'aos 45 do segundo tempo'. Um drama de proporções ainda maiores na cidade vizinha...
Pegando a SP-147 e chegando em Itapira a realidade não é muito diferente. Talvez até pior. Mirandinha assumiu o clube em novembro e foi apresentado ao lado de 23 jogadores. A preparação ocorreu longe da cidade, já que o alojamento não teve o contrato de aluguel renovado e os imóveis solicitados não foram liberados para o clube. Instalados em hotéis fora de Itapira, os jogadores foram treinados por Mirandinha sem conhecer o Chico Vieira. Porém, ao menos, se conheciam dos amistosos. O técnico treinou uma base por 60 dias, mas está aleijado. A diretoria inscreveu apenas 14 nomes para a Série A3. Muitos dos considerados titulares estão irregulares, sem condições de jogo. Mirandinha não pôde fazer mudanças na estreia e teve apenas um atleta de linha na reserva nos dois jogos seguintes.
As situações vividas por Toninho e Mirandinha são insuportáveis no meio do futebol. Outros treinadores teriam abandonado o barco. Estão nos respectivos cargos por hombridade. Suportam o amadorismo de clubes profissionais por hombridade. Não faço aqui a defesa integral de ambos. Toninho e Mirandinha devem sim ser questionados pelos resultados em campo. Recebem para isso e devem ser cobrados pelo torcedor. E, nas entrevistas, não se fazem de vítima, admitem que, apesar dos pesares, são os responsáveis pelo futebol. Para agravar o panorama, iniciaram fevereiro com resultados que refletem o que foi a bagunça de dezembro/janeiro. O Mogi perdeu os dois jogos que fez. A Esportiva perdeu dois e empatou o último. O mais absurdo é que, mesmo sem todos os jogadores que deseja, Mirandinha viu sua Vermelhinha atuar bem em Catanduva e perder seis grandes chances no frustrante empate diante do Fernandópolis.
Na ótica simplista do torcedor, a culpa pelos resultados ruins, pelas formações equivocadas, são, invariavelmente, do técnico. Outros clubes também precisam dividir a responsabilidade de maus resultados entre técnicos e dirigentes, além de atletas, claro. Porém, pela realidade vivida nos últimos meses, os dirigentes de Mogi e Esportiva precisam ser cobrados em proporções maiores que Toninho e Mirandinha. Quando falo em dirigentes, falo de todos. Dos que ainda caminham com tal status, dos que ainda circulam nos bastidores ou aqueles de recente passagem e que deixaram uma herança de descredito e 'agestão'. Os ex-colegas sofreram juntos com o drama palmeirense da década de 80. E quase juntos sofrem com os possíveis dramas de Mogi e Esportiva numa temporada em que seis clubes, em cada série, serão rebaixados. Podem até cair, mas se mantiverem a hombridade, cairão de cabeça em pé...
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