segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Leicester repete o São Caetano e a torcida é por um final diferente de 2000

Não importa se você é um assíduo acompanhante do futebol internacional. Caso seja adepto do futebol, já ouviu falar do feito do Leicester na Inglaterra. Com potencial para curta-metragem, série de TV ou filme, a trajetória das raposas da Premier League já vale como título. No último sábado (6) a vitória por 3 a 1 sobre o Manchester City, fora de casa, foi o ápice de um time que segue a missão de assombrar o improvável. A liderança com 53 pontos, 15 vitórias (ninguém teve tantas vitórias), duas derrotas (nenhum clube perdeu menos), 47 gols (não há ataque mais eficiente) gera um cenário inevitável.

Não há como não torcer pelo título do Leicester. É como não ter torcido pelo São Caetano na Copa João Havelange de 2000 ou diante do Olímpia, na Libertadores de 2002. Ou pela Coréia do Sul diante da Alemanha, na Copa do Mundo daquele mesmo ano. Há outras inúmeras campanhas vitoriosas ou virtuosas de pequenos contra gigantes. Porém, são raros os casos de títulos de 'Davis' diante de 'Golias' em um campeonato disputado por pontos corridos. Ainda mais nesta nova era, em que o poder econômico domina as competições. 

“A vantagem que o Leicester tem até o final da temporada é que o país inteiro torce para eles – exceto os nossos torcedores, os do City e os do Tottenham. Vocês me reprovam por não comprar grandes nomes, mas vocês dão suporte a um time que não tem grandes nomes. Penso que é ótimo ver o Leicester indo tão bem. Eles são um fantástico exemplo de que o futebol não é apenas gastar dinheiro. É a qualidade do trabalho e é importante pensar a qualidade do trabalho que você pode atingir. O Leicester é um ótimo exemplo para a nossa liga”. 
A entrevista grifada acima foi concedida por Arsene Wenger. O técnico do Arsenal, um dos rivais do Leicester, expressou em algumas palavras os grandes trunfos dos Foxes. O trabalho é muito bem feito e os frutos são consequência da plantação. Porém, há uma certa magia que excede este discurso simplista de "trabalho = resultado". Os fatos mais importantes são: não há absolutamente nenhuma estrela, o Leicester jamais esteve perto até da Liga dos Campeões e há sete temporadas amargavam a terceira divisão.

Os três pontos levantados aproximam muito o Leicester do São Caetano, já citado nesta postagem. O Azulão fez uma final nacional sem nunca ter disputado a elite brasileira e no ano anterior estava na Série C do nacional. O elenco não possuía nenhuma estrela em fase decadente ou que buscava no ABC a chance de recomeçar. Era assim como Daniel, Dininho, Claudecir, Adãozinho e Adhemar. É assim como N'Golo Kanté, Drinkwater, Okazaki, Vardy e Mahrez. E a vaga na Libertadores? Um sonho que jamais passou pela cabeça dos torcedores do Azulão.

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Este Leicester está muito perto de sua vaga continental. São 12 pontos a mais em relação ao quinto colocado, Manchester United. A vantagem para o terceiro, City, aumentou para seis pontos após o triunfo magnífico por 3 a 1 no Etihad e a dupla do Norte de Londres, Arsenal e Tottenham, cinco pontos atrás, surgem como concorrentes duros para os Foxes. Wenger foi muito feliz ao destacar que apenas torcedores destes três clubes torcem contra o Leicester. Em verdade, creio que não é uma torcida contra e sim a favor de seus clubes, algo natural. Na essência, os adeptos destes três clubes devem pensar o mesmo. "Se não for o meu time, que seja o Leicester".

O sentimento dos que adotaram o Leicester graças à insana campanha é defendida por aquele desejo humano de ver os menores se levantarem diante dos gigantes. Não será fácil superar a sede de Gunners e Spurs contra seus jejuns históricos. O Tottenham, aliás, surge como o Atlético-PR de 2001 neste enredo do 'Azulão Leicester'. Na lista de prioridades dos que torcem sem compromisso com um escudo inglês, um tropeço dos Foxes só será menos doloroso caso a taça termine em White Hart Lane. Porém, a analogia aqui é com 2000. Quando o Vasco da Gama derrubou a empolgação geral do Brasil com o São Caetano. Hoje, o Mundo torce para que nenhum gigante seja capaz de parar a odisseia do pequeno Leicester. Campeão da League One (3ª Divisão) em 2009. Da Championship (2ª Divisão) em 2014.

O rebaixamento, aliás, já estava na pauta do clube. Em entrevista dada em dezembro, o técnico Cláudio Ranieri revelou: "Uma das coisas que ouvi do dono do clube é que ele queria manter o clube na primeira divisão durante os próximos dois anos, e então tentar buscar a parte de cima da tabela. Mas ele também perguntou: ‘Se tudo der errado, você ficaria com a gente na Championship?". O Leicester ultrapassou suas próprias projeções. Fechou o turno colado no Arsenal na liderança e chega à 25ª rodada no topo.


E com vantagem. E com a chance de abrir oito pontos sobre os Gunners caso os vençam fora de casa. Algo que não é mais improvável após os bailes sobre Liverpool e Manchester City no período mais pesado da tabela. A série diante de gigantes termina no domingo, a partir das 10h00, com o confronto direto diante dos Gunners. Depois de visitar os londrinos, o Leicester faz três (diante dos ameaçados Norwich, West Brom e Newcastle), de seus quatro próximos jogos como mandante. A chance de se consolidar como favorito ao título será enorme. Depois, serão 12 jogos e apenas dois duelos contra as potências - ambos como visitante - United e Chelsea. Os duelos contra o maior campeão da Premier League ou diante do atual campeão podem terminar na conquista histórica, já que serão, respectivamente, na antepenúltima e na última rodada. Com um enredo de cinema, alguém dúvida de um final assim? 

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